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Otobiografias: o bradar dos currículos

Atualizado: 6 de jul. de 2021

Neurisângela Miranda


Olá! Todos me ouvem?

Essa foi uma das expressões mais utilizadas para o início de encontros remotos de todas as ordens nesses mais de 500 dias de (sobre)vivências em meio à pandemia da COVID-19, em que (re)inventamos formas outras de lidar conosco, com os outros e com as urgências em reorganizar os tempos e espaços de nosso viver. Diante disso, tomamos a ação fisiológica do ouvir, a qual ganhou mega expressividade com as inúmeras lives e podcasts lançados e utilizados, especialmente, como possibilidades pedagógicas, mais um impulso necessário para fazer emergir outras redes de conversações (DELEUZE, 1992) sobre essa tecnologia simples – ouvir – mas que movimenta labirínticas e complexas inscrições de vida (o biográfico) compósitas de tantas possibilidades de atualizações, as quais, nem sempre, são ouvidas por todos – não por qualquer deficiência fisiológica no canal auditivo, mas por falta dos necessários acessos às vivências produtoras de sentidos aos acontecimentos dessa escuta que transborda o fisiológico ao ser repetida como um gesto filosófico, como uma otobiografia, aquela que o filósofo Jacques Derrida (2009) propunha, a partir de leituras cruzadas de Nietzsche e Deleuze, e traduzimos como ouvir (oto) a vida (bio) nos registros (grafia) humanos. Neste período, de fase lunar minguante em que os ouvidos se apequenam para uma escuta menor, os currículos suscitam diferentes inscrições, diferentes registros que, por sua vez, suscitam diferentes ouvidos para invenção de diferentes acontecimentos curriculares, espreitados/rastreados nos acontecimentos desse movimento otobiográfico em que os registros de vida e o vivente são questionados sobre o que querem ao dizer, criando um círculo indecidível e infinito, sem origem e sem fim de escritura, de leitura e de acontecimentos outros.

Nessa perspectiva, talvez nunca tenhamos levado tão a sério o aforismo nietzschiano


Viver é inventar” (NIETZSCHE, 2004, §119, p. 92).

Por isso, as professoralidades (modos de ser professor), ator/autores do conhecimento de si, se debruçam na escuta de sua própria formação junto aos outros de si para problematizar certos modelos de escolaridade que, nesta contingência, se deslocaram do tradicional e suposto firme “chão da escola” e foram para contextos impalpaveisdas “nuvens”. E de lá das nuvens, numa deviria lunar, currículos bradam: todos conseguem me ouvir?



DELEUZE, Gilles. Conversações. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1992

DERRIDA, Jacques. Otobiografías: la enseñanza de Nietzsche y la política del nombre

propio. Buenos Aires: Amorrortu, 2009.

NIETZSCHE, F. Aurora. Trad. Paulo César de Sousa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.



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