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Com a perplexidade inicial e o permanente desassossego desde o fatídico anúncio de uma pandemia em 2020, a emergência do maior deles: parar ou não parar as atividades de pesquisa, a produção acadêmica e as aulas na universidade? Que significações poderiam ser engendradas a essas ações? Haveria de fato uma oposição entre o reconhecimento da premência de medidas sanitárias rígidas para preservação das vidas e a continuidade de uma interação efetiva entre as pessoas nos espaços acadêmicos por meio remoto?

 

Em nosso grupo de pesquisa nem foi tão dilemática a decisão de não interromper as atividades presenciais mesmo antes das deliberações oficiais; afinal, muitas pessoas teriam que se deslocar por meio de transportes coletivos incluindo os intermunicipais e o risco das aglomerações já era reconhecido por todos. Mas nossas tardes de quinta-feira não prescindiram dos encontros do grupo, o que permitiu a participação, presencialmente impossível, de uma das líderes do grupo que se encontrava em licença capacitação em outro estado ou de uma doutoranda estrangeira que rumou para seu país. E os temas dilemáticos se impuseram: como praticar o cuidado com nossos estudantes: mantendo os contatos online, levantar discussões sobre o momento que estávamos vivendo, dividir a perplexidade, a insegurança, os medos, as dificuldades ou mesmo a impossibilidade de acesso aos meios digitais que até então não sabíamos aquilatar? Ou essa atitude traduziria uma ilusória intenção de amparar, proteger, demarcando uma ordem não isonômica, cutucando a tão pretendida horizontalidade nas relações e revelando uma vontade de poder? Parar em respeito à vida e às desigualdades que se desnudaram ostensivamente ou buscar outras possibilidades de criação, de produção? Esperar a volta a uma normalidade ou “problematizar o ‘normal’ e o ‘novo normal’ não como uma sequência temporal, centrada no antes e depois, respectivamente, mas em suas ambiguidades e tensionamentos, para então agenciar enunciados no sentido da emergência de um pós-normal em educação” como o fizeram uma pós-doutoranda e sua supervisora? (RAIC; SÁ, 2021). O que nos faz achar que só em uma sala quadrada com carteiras, pessoas sentadas, quadro, se materializa uma escola? A materialização das presenças só se daria nesses espaços idealizados? Mas, com a desterritorialização trazida pela pandemia, como nos fazemos presentes? O que é a presença?

 

Eu diria, com inspiração heideggeriana, que as presenças de alunos e professores não requer a materialidade da sala de aula como a idealizamos, já que trato a pre-sença como o ser-sendo das pessoas que fazem escola (incluindo, claro, as universidades), que criam currículos em sua imanência, estejam onde estiverem; são aconteceres bem palpáveis nas situações trazidas pelo imponderável das atividades online.

 

 

 

RAIC, Daniele F. F; SÁ, Maria Roseli G. B. de. O retorno a um “novo normal”: a emergência de um pós-normal em educação? Revista Entreideias, Salvador, v. 10, n. 1, p. 15-37, jan./abr. 2021. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/index.

 

CARVALHO, Maria Inez; SILVA FILHO, Elísio. Isto pode ser uma escola.Trabalho apresentado no XXV EPEN - Reunião Científica Regional Nordeste da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação, 2020. Disponível em: http://anais.anped.org.br/regionais/p/nordeste2020/trabalhos?page=15.

Dilemas Pandêmicos

Maria Roseli de Sá

Será que a ideia da contingência diminui o pudor de deixar emergir nossos dilemas?

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