Lucas Santana
Há quem tenha começado a vida de professor – entendendo o ser professor como uma forma de vida – na materialidade da escola e da sala de aula, e só então, agora na pandemia, vieram a conhecer e vivenciar o ensino remoto. E há aqueles que, como eu, iniciaram a vida de professor no ensino remoto. Para eles, e para mim, não houve uma transição da materialidade da escola e da sala de aula para a virtualidade do remoto, senão uma (quase) completa iniciação na virtualidade. A ansiedade, então, não foi por pisar os pés numa sala de aula, mas por entrar no Google Meet. A desmotivação veio na forma de “fecha a janela desse navegador, desligue o notebook e saia daí”. E aí, descobertas. (Re)encontros. Soube que tinha perdido o meu avô ao final de uma manhã de aulas, ao fechar o navegador e ligar o celular, sem sair de casa. Ganhei cerca de quase duzentas companhias diárias, sem sair de casa. E aí, descobertas, (re)encontros. Descobri fazer escola fora da materialidade do espaço escolar. Descobri fazer docência fora do espaço material do professor, sem as costumeiras ferramentas e os habituais gestos professorais. Descobri fazer leitura, fazer escrita, fazer conversa e gerar pensamentos “digitalmente falando”. Decidi fazer a escola que conhecia fora da escola conhecida e ser o professor que era fora do espaço-tempo do professor. Fiz, com meus novos (e corporalmente desconhecidos) estudantes, a câmeras desligadas e microfonia, tempo de estudo, tempo de atenção, tempo de leitura, tempo de conversação e pensamento. E, com isso, fiz aquilo que desde tempos imemoriais chamam scholé (LARROSA, 2018). E soube que há que se fazer escola fora da escola.
LARROSA, Jorge. Esperando não se sabe o quê: sobre o ofício de professor. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2018. 523 p.
Comments