Danielle Freire
“Pró, vai ter aula?”...
“Sim, segue o link!”.
Fico aqui à espreita de um lugar. Fico? Não sei. Mas isso é conversa para depois. O fato é que não tenho a sala de aula para ir, mas tenho que “dar” aulas em salas das quais não consigo sair. Coisa estranha esse negócio que quero chamar de deslugar! Assim venho experimentando a minha docência no último ano, com a Covid-19.
Um espaço sem lugar, mas ao mesmo temo um lugar no espaço; um horário no tempo, mas um tempo que se recorta em horas a fio; uma presença em que não toco, mas que se impõe num espaçotempo desse deslugar. Isso e aquilo! Entremeios de uma docência... Não vejo limites demarcados, tão somente linhas desejantes que se movem, se chocam, se compõem.Vejo a minha volta professores e alunos desterritorializados, lançados num dinamismo espaçotemporal, sem futurologia. Há somente dramas da e na docência (pandêmica?). São práticas docentes dançantes, que se atualizam e virtualizam, em movimentos performáticos, tensos, intensos, em devires indescritíveis. Escrever é devir; inscrever-se é territorializar. Não há desterritorializações sem reterritorializações, já nos alertavam Deleuze e Guattari.
Vejo, então, por todos os lados, cartógrafos de docências e de discências. Cada um construindo seus próprios mapas, arremessando-se para fora dos territórios da famigerada normalidade, se é que um dia ela existiu. Vejo emergindo outras tantas, inúmeras, docências des-formadas. Criticam-nos pela falta de formação para os “novos tempos”. Capturam-nos pela formação salvadora. Vazamos. Criamos nossa docência entremeios! Estamos entre o virtual e o atual; entre o instituído e o instituinte; entre um presente que passa e um futuro que ainda não é, por sua imprecisão; entre o que pensamos e o que escrevemos. Entre as palavras e suas traduções; entre o lugar e não lugar; entre o modo de ser e o modo de fazer... Seria o momento de sair do substantivo docência e fabulá-la em torno do verbo docenciar?
Talvez seja isso! Talvez...
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