Amarildo Inácio dos Santos
Adam Riches
A primeira experiência docente a gente nunca esquece. É um misto de excitação e desespero que nos faz borboletear as vísceras. Bem, pelo menos foi para mim. Lembro bem da primeira vez em que pisei em uma sala de aula como professor na educação básica. Aqueles olhos apreensivos me olhando e eu, do “alto” da posição de sujeito docente que ocupava, ainda desengonçadamente, disfarçando, meio sem entender o porquê, minha apreensão. Nunca ocupara aquela posição de sujeito e foi um pouco como a sensação de tirar uma foto e não saber fazer uma pose. Apesar de estarmos na mesma sala parecia que estávamos muito distantes. A sensação foi muito similar ao que experimentei no primeiro semestre de 2021, no ensino superior. Não bastasse ser minha primeira experiência como docente nesse nível de ensino, foi no formato de ensino remoto. Caetaneando um pouco o pensamento, senti como se alguma coisa estivesse fora de ordem.
Eu não fora “projetado” para isso...e agora José? Foi necessário um movimento de desterritorialização-criação-recriação ao longo do processo e, não romantizemos, desterritorializar não é um caminho ladrilhado e florido, apesar que podemos semear flores. Precisei aprender a lidar com ferramentas tecnológicas que desconhecia e fui estabelecendo múltiplas conexões insuspeitadas. Não apenas com as redes de internet ou com os inúmeros artefatos tecnológicos de que dispomos. Não apenas com novos formatos de aula, metodologias, mas também, e sobretudo, com pessoas. Diferente da sensação de distância que senti em relação aos estudantes, na primeira vez em que pisei numa sala de aula como professor na educação básica, desta vez me senti próximo demais. Eu estava literalmente em suas casas, e eles/elas na minha. De algum modo compartilhávamos nossos espaços de vida, nossas rotinas, nossas intimidades. Ao final do período, quando conversávamos sobre o semestre remoto, uma estudante compartilhou conosco que seus avós acompanharam todas as aulas. Estudantes por adesão que eu sequer sabia que estavam ali, me ouvindo, conectados comigo de alguma forma. Seguimos (des)aprendendo e conectando e desconectando e reconectando e...e...e...
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