Pedro Teófilo
O espaço-tempo parece outro, tudo parece mais pesado, mais rápido ou demora a passar. Será que existe a possibilidade de tudo ser ainda mais relativo? O dia é um constante movimento convectivo, aquele fluxo ascendente e descendente que representa bem a fluidez das 24h. Nunca fui tão próximo de notar os conceitos na física escolar, mas eles me transpuseram quando a presença foi questionada pelas câmeras. Estou ou não estou? Alguém me vê? Minha voz está soando? Vou conferir o microfone que vai captar estas ondas sonoras. Ou seja, a primeira coisa que fiz na pandemia foi ficar perdido nas novas percepções.
Do topo ao fundo numa convecção tão rápida que nem dá pra registrar quando o Twitter pergunta “O que está acontecendo?”, ou quando o Facebook indaga “No que você está pensando?”. O Instagram nem pergunta, já mostra aquele detalhe tão bonito da vida alheia. Será que a pandemia só afeta por aqui? Navegar passou a ser uma louca tempestade.
Dilemas se transformaram. Me tornei voluntário em um pré-vestibular social para ajudar alguns alunos perdidos diante das faltas dos seus contextos escolares. O mestrado está a todo vapor e espero não ser atropelado! Textos, trechos, escritas, correções, livros e conceitos quase viraram meu travesseiro. Meu ócio criativo se perdeu e está sem mapa – aliás, mapa é cringe? Seria GPS? Waze? Maps? Quem nos atualiza no tempo espaço com “você chegou ao seu destino”? Também noivei! Algumas vezes parece que foi com o notebook. O pôr do sol mais romântico dos últimos tempos foi o da proteção de tela. Fui convidado para ser Padrinho do casamento de um amigo. Houve mais reuniões do que pude contar. Comecei a produzir uma nova música em fevereiro – nem saiu da introdução pois perdeu para o texto de qualificação. A competição nem foi acirrada. Falando do texto, não coloquei uma meta, achei que bati a meta, aí dobrei a meta.
Ufa!
Nem lembro como era minha rotina de sono antes da pandemia. Enfim, os movimentos convectivos misturaram tudo – como o escritório, sala de aula, sala de reuniões, hall para lançamento de livro e biblioteca couberam no meu quarto?
Há tempo para todas as coisas debaixo do sol e das fases da lua. Salomão só não me ensinou que espaço-tempo é esse. Será que existe a possibilidade de tudo ser ainda mais relativo?
Comments