Emanuela Oliveira
Acabamos de verificar que a atitude mais radical do Regime Noturno do imaginário consistia em mergulhar numa intimidade substancial e em instalar-se pela negação do negativo numa quietude cósmica de valores invertidos, com os terrores exorcizados pelo eufemismo.
O presente repete o imperfeito como os homens redobram os deuses.
Uma regeneração periódica do tempo, escreve Eliade, pressupõe sob uma forma mais ou menos explícita, uma criação nova... uma repetição do ato cosmogênico.
A maior parte das divindades da lua ou da vegetação possuem uma dupla sexualidade. Ártemis, Átis, Dionisio, as divindades indianas ou australianas, escandinavas ou chinesas, têm uma sexualidade muito variável.
Nessas perspectivas noturnas, o primordial é o androginato.
É no romantismo literário que se torna mais aparente e mais facilmente acessível para nós esse esforço sincrético para reintegrar no Bem o Mal e as trevas sob a forma mítica de satã, o anjo rebelde.
A lua é, assim, simultaneamente medida do tempo e promessa explícita do eterno retorno.
Por outras palavras, estamos em presença de um estilo ontológico oposto ao estilo eleático tal como a beatitude mística e onde a permanência já só reside na constância da própria mudança e na repetição das fases.
Todavia, a lua também não é simples modelo de confusão mística, mas escansão dramática do tempo.
Deixa de haver, a partir daí, distinção entre tempo e espaço pela simples razão de o tempo ser especializado pelo ciclo, o annuluz.
Qualquer personificação das estações [...] está cheia de uma significação dramática, há sempre uma estação do despojamento e da morte que vem carregar o ciclo com um adagio de cores sombrias.
Qual é sua Lua?
* os fragmentos do texto em itálico são do livro As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral, de Gilbert Durand.
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