Elísio Silva
Como fazer educação formal em cotidianos informais?
Foi esse o pensamento que me tomou nos primeiros ensaios das aulas online. De um lado da interface, me preparo, me arrumo, elaboro um cenário. Distante de um ambiente que se assemelhe a uma sala de aula, acabo por revelar frestas da minha casa, sons domésticos, minhas cores. Do outro lado, só posso imaginar cenas e cenários. Não abrir a câmera é uma opção, não falar também é. Posso, assim, imaginar que alguém escuta a aula ainda sem se levantar da cama, outros estão em bits mas não em presença plena, já um outro, assim como eu, se arruma. As informalidades do cotidiano agora são a própria sala de aula, o pijama ou a camiseta velha é/não é o uniforme e testamos possibilidades de proximidades da casa à sala de aula. Nossas telas vivas nos aproximam em modo zoom, como disse Maria Homem, em Lupa da alma.
E vamos assim, vivendo, sobrevivendo, compondo possíveis enquanto o impossível nos assola.
Mas sempre tem um sopro bom do cotidiano, o gesto de uma risada muda ao microfone desligado, clássico da pandemia, ou tomar um café (cringe?) enquanto dá aula, não precisar pedir licença para ir ao banheiro, um clássico de escola.
HOMEM, Maria. Lupa da alma: quarentena revelação. São Paulo: Todavia, 2020.
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